segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Rendi-me




Há quanto tempo não escrevo. Talvez tenha brigado com a pena ou experimentado o longo inverno da hibernação, tempo de sonolência, de prostração, ausência de palavras...Ou talvez tenha simplesmente brigado comigo mesma e de mal de mim, neguei-me a escrever. Puni-me das idéias, dos símbolos, das palavras...


Desculpas mil eu arranjei para este vazio literário: falta de tempo, correria de final de ano, escola, compromissos com as correções de provas, notas, médias, enfim, nada me convenceu...Rendi-me ao fato: nada escrevi. Consciente ou inconscientemente , puni-me das letras.


Quase dois meses, mais de 60 dias sem experimentar a sensação de produzir algo, de dar a luz à uma crônica ou uma poesia. Claro, sem pretensão de ser uma cronista famosa, profissional ou até mesmo brilhante, mas uma contadora de fatos, de histórias do cotidiano. Furtei-me a descrever as sensações, pintar em letras todos os desenhos da realidade que meus olhos enxergavam. Puni-me das emoções, escondi-me de mim mesma.


Fiquei introspectiva, temerosa de tecer idéias, juntar palavras dando a elas uma forma, um sentido decifrado, traduzido , fazendo-as vivas e com significado, mesmo que fosse só para mim. Escritora sem platéia, de um só leitor, mas mesmo assim escritora que ousa fazer um filho, dando-lhe vida, um nome e existência. Puni-me da alegria de parir. Esqueci-me do ato sublime de gerar, mesmo que dentro de mim, nunca tenha morrido a canção de ninar.


Maria Eugenia

30/12/2008

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

COMEÇAR DE NOVO





Depoimento de um funcionário da Perdigão da cidade de Itajaí - SC, uma das mais afetadas pelas enchentes e desmoronamentos .


COMEÇAR DE NOVO

Eu tinha medo da escuridão
Até que as noites se fizeram longas e sem luz.
Eu não resistia ao frio facilmente
Até passar a noite molhado numa laje.
Eu tinha medo dos mortos
Até ter que dormir num cemitério.
Eu tinha rejeição por quem era de Buenos Aires
Até que me deram abrigo e alimento.
Eu tinha aversão a judeus
Até darem remédios aos meus filhos.
Eu adorava exibir a minha nova jaqueta
Até dar ela a um garoto com hipotermia.
Eu escolhia cuidadosamente a minha comida
Até que tive fome.
Eu desconfiava da pele escura
Até que um braço forte me tirou da água.
Eu achava que tinha visto muita coisa
Até ver meu povo perambulando sem rumo pelas ruas.
Eu não gostava do cachorro do meu vizinho
Até naquela noite eu o ouvir ganir até se afogar.
Eu não lembrava os idosos
Até participar dos resgates.
Eu não sabia cozinhar
Até ter na minha frente uma panela com arroz
e crianças com fome.
Eu achava que a minha casa era mais importante que as outras
Até ver todas cobertas pelas águas.
Eu tinha orgulho do meu nome e sobrenome
Até a gente se tornar todos seres anônimos.
Eu não ouvia rádio
Até ser ela que manteve a minha energia
Eu criticava a bagunça dos estudantes
Até que eles, às centenas, me estenderam suas mãos solidárias.
Eu tinha segurança absoluta
de como seriam meus próximos anos
Agora nem tanto.
Eu vivia numa comunidade com uma classe política
Mas agora espero que a correnteza tenha levado embora.
Eu não lembrava o nome de todos os estados
Agora guardo cada um no coração.
Eu não tinha boa memória
Talvez por isso eu não lembre de todo mundo,
Mas terei mesmo assim o que me resta de vida
para agradecer a todos.
Eu não te conhecia
Agora você é meu irmão.
Tínhamos um rio
Agora somos parte dele.
É de manhã, já saiu o sol e não faz tanto frio
Graças a Deus!
Vamos começar de novo. É hora de recomeçar,
e talvez seja hora de recomeçar, não só materialmente.
Talvez seja uma boa oportunidade de renascer, de se reinventar
e de crescer como ser humano.
Pelo menos é a minha hora, acredito.
Que Deus abençoe a todos.

Luis Fernando Gigena

*texto que recebi do profº Wilomar Sales*
18/12/2008

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

salmo 46,1




DEUS É O NOSSO REFÚGIO E FORTALEZA,

SOCORRO BEM PRESENTE NAS TRIBULAÇÕES.

( SALMO 46,1)


Maria Eugenia

10/12/2008