Recordar é viver. Não consigo me lembrar, se a frase é de alguma música ou poesia, mas sei que já li. Se recordar é viver, estou viva. Que verdade! Tenho experimentado em minha vida. Sempre achei que recordar fosse coisa dos que passam da terceira idade, para não ser politicamente incorreta usando o termo: velhos.
Mas tenho me assustado, ou já entrei na terceira idade, ou estou politicamente correta na minha classificação: estou ficando velha, ou avançando na idade. Por que digo isto? Porque continuamente me pego nas recordações de fatos, pessoas, circunstâncias. Digo para mim mesma: puxa!E não é que isso pega. Bem feito!
De fato, ontem sentada na varanda, em casa, após dar aula de Português e usar um material em pps no computador, pus-me a recordar. Fatos foram chegando de forma agradável em minha mente.
Lembrei-me de quando iniciei minha carreira no magistério. Tinha 18 anos e o único material que dispunha para trabalhar era o giz e o apagador. Giz branco, colorido e dos comuns, porque nem se falava em giz antialérgico e nem na nova ortografia. Ah! Mas como esquecer da régua de madeira, enorme, para traçar as linhas na lousa para escrever redondinho. Todos que entravam na sala de aula diziam: que letra linda. Letra de professora, respondia eu, toda pomposa. Anos a fio de caligrafia.
Tempos depois chegou à escola um lindíssimo mimiográfo. Que engenhoca linda, sucesso total. Uma labuta, chegar cedo à escola para rodar o material a ser usado na classe. Primeiro, escrevia-se ou desenhava-se no stencil. À mão ou com máquina de datilografia. Um primor, obra de artista. Aí, começava a maratona. Colocava-se o stencil no mimiográfo, do lado correto, é claro, mas nem sempre era tão claro assim e a perda do material era certa, porque a máquina já estava encharcada de álcool. Iniciava-se a rodagem manual, ou braçal, folha por folha. E para secar o álcool, as folhas eram espalhadas uma a uma sobre uma mesa na sala dos professores ou na secretaria. Este trabalho braçal, eu creio, deve ter sido uma “benesse”, para que nós, professores fizéssemos musculação, pois não tínhamos tempo para freqüentar academias.
Os alunos não ficavam dependentes de álcool, tamanha exposição ao cheiro, mas que gostavam, gostavam. Isso era evidente, pois todos levavam as folhas ao nariz e diziam: que cheirinho de álcool!Sem contar as folhas borradas, que não secavam convenientemente e nossas mãos arroxeadas do tocar no stencil, além do riso dos alunos quando nosso rosto aparecia marcado como hematomas, pelo fato de ter limpado o suor com as mãos borradas.
Mas logo chegou uma máquina mais poderosa. O nome? Retro projetor. Queria escrever na nova ortografia, mas o Word não aceitou, não vou insistir. Recebeu o apelido de Retro, mais simples, mais fácil. Que maravilha! Que facilidade! Escrevia-se com máquina de datilografar ou fazia-se xérox de outros materiais e projetava-se em uma parede clara ou em uma tela branca. Cobria-se com uma folha de sulfite o que não era para leitura e pouco a pouco ia descortinando aos olhos dos alunos todo o material. O problema era a quantidade de retros para uso de todos os professores, se é que podemos denominar problema, pois numa sociedade organizada, dividia-se de forma democrática, em rodízio, o dia de uso de cada um. Isso era bom, dizia a coordenadora pedagógica, pois exigia planejamento de aulas. Coordenador é sempre coordenador! Rale-se o professor.
Ainda se podia usar o projetor de slides, guardados em caixinhas e projetados na sala de aula. Mais sofisticado e atendendo às disciplinas mais específicas. Tudo para fugir do giz e do apagador tão somente. Projeção em sala de multimídia? Nem em sonho. Mas nosso sonho era motivação? Criatividade? Necessidade de ser diferente? Sair do lugar comum? Não sei responder... Talvez curiosidade inventiva ou intuitiva de um educador que nunca se conformou com a mesmice.
Por último, o computador. Chegou a minha vida há uns 15 anos atrás. Confesso que sofri, chorei, gemi. Que medo de perder todo o material. Salvar, deletar, anexar... Que linguagem nova... O computador me dominava e não eu a ele. Mas fui insistindo, fomos ficando amigos, primeiro desconfiados, depois amigos mais próximos e hoje quase íntimos. Não posso dizer íntimos porque preciso descobrir ainda muitas coisas. Mas posso dizer que ele é muito pacencioso comigo. Permite-me tocá-lo, explorá-lo e eu vou ficando apaixonada.
O giz? Meu primeiro amigo, ainda tem lugar no meu coração, mas confesso que ele quase faz parte das minhas recordações da segunda idade. O mimiográfo? Ficou encostado no canto de alguma sala ou na biblioteca da escola. O projetor de slide? Foi substituído pela máquina digital. E o computador? Ah! Este me faz recordar o que ficou no tempo passado. E se não me atualizo e não atualizo o pc todo ano, ele é um amigo cruel e vai me deixando para trás.
Recordar é viver... Só recorda quem viveu.
Maria Eugenia
12/01/2009
*direitos reservados à autora*
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