sábado, 6 de setembro de 2008

Uma gata borralheira moderna

Um casamento igual a qualquer outro. Pela manhã ela vai à padaria buscar o pão e o leite para servir ao marido e aos filhos que vão para a escola. Rápida, sempre faz o percurso dando bom dia aos vizinhos... Vizinhos de quase 20 anos... Puxa! Tanto tempo assim, pensou ela? Nem havia dado conta do tempo... Também sempre uma correria, sempre a mesma rotina...
Em casa, coloca a mesa para o café da manhã... O marido, de banho tomado, cheiroso, de terno, cabelo impecável, apressado, toma somente um cafezinho. Uma xícara de café para quebrar o jejum, depois na empresa, se der tempo almoça melhor... Despede-se dela perguntando se chegou o jornal.
Os filhos, na maior gritaria, tomam o leite e mastigam o pão, em pé, pois o ônibus escolar já buzina lá fora... Estão sempre atrasados. Dão um beijo apressado, lambuzado de manteiga e saem sem nem fechar a porta. Abanam a mão para o cachorro que sempre late fazendo festa até que eles cheguem ao portão. O ônibus parte e ela fica na janela olhando ao longe, acenando, acenando até que desapareçam na curva da avenida.
Sozinha, pensa em começar a faxina... Afinal os banheiros estão um horror e o cesto de roupa suja, atolado até à tampa... Liga a TV, pois trabalha assistindo os programas matinais... Sempre uma nova receita de culinária, receita para tirar manchas, um corte novo de cabelo...
Ela senta-se e começa a tomar seu café, afinal ainda não cuidou dela. Da mesa consegue ver seu rosto no espelho da sala de jantar. A imagem reflete um cabelo desalinhado, sem corte, amarrado... Pensa que não o tinge há mais de mês... Cadê tempo? E as tarefas da casa e o almoço? Sempre uma esposa e mãe exemplar... Uma esposa à antiga...
Pensativa, fica indecisa por onde começar... Faxinar ou lavar a roupa?
Um pensamento audacioso começa a insurgir em sua mente ocupada. As crianças já adolescentes vão ficar o dia todo na escola e sobrará bastante tempo para faxina. Portanto, a faxina primeiro. Mas e a roupa suja? Pensa no marido. Este também almoça quase sempre no restaurante da empresa. Liga quase todos os dias para dizer que tem um compromisso na hora do almoço e suas camisas estão passadas. Mas, o cachorro... Felizardo aceita qualquer tipo de ração...
Oras bolas, ela decide rápido. Pega o telefone, liga para o cabeleireiro, para a manicura e para o massagista... Todos estavam com a agenda livre. Que bom, afinal alguém tem que trabalhar. Além do mais, o marido deixou o carro com o tanque cheio...

Maria Eugenia
06/09/2008

*direitos reservados à autora*

Nenhum comentário: