sábado, 17 de maio de 2008

A Vocês, Novos Pequenos Mártires


A Vocês, Novos Pequenos Mártires

O que é dor? O que significa este substantivo, que de tão concreto causa marcas, sinais físicos, psicológicos e sexuais, que pode tornar-se abstrato, quando escondido no mais profundo do inconsciente, como forma de apagar aquilo que não se apaga? Esquecer? Fingir que não se vê?...
Que flor poderíamos dar a vocês, Novos Pequenos Mártires, para aplacar tamanha dor?
Talvez a flor chamada Martírio, que nem sabíamos que existia, mas que é tão concreta, que também é chamada Flor-da-Paixão e Maracujá-Azul. Por que não Flor-do-Amor? Flor-da-Alegria? Flor-da-Tolerância?
Por que não dar a vocês, Maracujá-Amarelo, cor da esperança, do futuro, da vida. Mas azul? Azul, cor das marcas dos hematomas, das feridas, do ar sufocado que quase não chega aos pulmões? Pequena flor, quase desfalecida, quando tem tanto para florescer, se fosse cercada pelos cuidados de um jardineiro. Flor do Martírio, tão linda, tão concreta, embora tão desconhecida, mas não rara e difícil de ser observada, de ser enxergada. Sempre velada, escondida, que não chega a ser exposta. Difícil de ser vista em exposições, em floriculturas. É preciso garimpar no meio de florestas, de pântanos para desvendá-la.
Pequenos Mártires, semelhantes aos grandes mártires de toda a história, das ditaduras, das repressões e dos abusos. Gente que sofreu a dor do martírio, porque martírio é sempre sinal de sofrimento, de submissão ou omissão, que não dá o direito de escolha. Martírio com sangue derramado germinando como semente para nova vida, para possibilidades de só então ser reconhecido como cidadão, como pessoa. Ser concreto, ser que existe. Que dor cruel, sofrer para ser reconhecido.
Pequenos Mártires, que não ficam mais no “limbo” do esquecimento, lugar para onde iam os anjinhos inocentes que morriam pagãos, como queriam que acreditássemos.
Para vocês, nosso desejo e empenho são o de desmistificar o “limbo”, que não existe, trazendo o abstrato para o concreto, realidade que se enxerga, para nela, juntos, semearmos e colhermos, com dores de parto, a flor da dignidade e do respeito. Não esquecendo, a realidade dura e crua da violência, encontra respaldo no pensar de Winnicott, que é no brincar, e talvez apenas no brincar, que a criança, o adolescente ou adulto fruem sua liberdade de criação.
Nosso convite: Vamos brincar de roda, vamos brincar de ciranda nos jardins floridos das casas, onde nasce a flor do Martírio.

Autores: Maria Eugenia e Francisco Revoredo - texto escrito em 10 de fevereiro de 2005 para aceitação e matrícula no Curso de Especialização em Violência Doméstica Contra Crianças e Adolescentes-VDCA, no LACRI-USP.
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2 comentários:

Moniquinha disse...

Ah Marô...a rosa branca traz a paz que consola e conforta tanta dor. Seu texto é mais do que uma dissertação, ou crônica, é uma prece, um grito.
Lindos, o texto e a imagem, parabéns minha linda!
beijos!

FormOsa disse...

Maria Eugênia

A minha alma...grita...timidamente...dentro de mim essas verdades....somos omissos mtas vezes...precisamos colocar a público..por isso t admiro..o Mundo precisa conhecer o seu talento.
bjos no coração