sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Uma história de vida




"Tudo, em suma, é sempre uma questão de Educação". (Cecília Meireles)
Vivemos numa era de revolução tecnológica. O mundo se tornou uma aldeia global. Tudo tão perto, tudo tão próximo, tudo tão acessível.

Fico a pensar nos rumos da educação. O educador sensato sente angústia nestes tempos onde vencer o conteúdo é meta a ser cumprida acima de tudo. Acima mesmo da educação da sensibilidade e das emoções. A racionalidade exige dominar conteúdos em curto espaço de tempo. Será a mais pura verdade?Para os que amam a Educação é um dilema crucial: coisas ou pessoas?

Lembro-me eu, professora recém formada nos idos anos 70 começando a conviver com a difícil tarefa de alfabetizar crianças de 7-8 anos. A alegria daqueles olhinhos a cada nova sílaba aprendida. A emoção da leitura e da escrita da primeira palavra. E o livro? Que dizer da festa da entrega do primeiro livro???Choravam eles... Choravam os pais... Chorava eu...

Nas férias ia para a casa de meus pais e à noite acompanhava minha mãe, uma querida professora do antigo curso Mobral, uma alfabetizadora de adultos...Eu alfabetizando crianças, mamãe ensinando adultos, na maioria trabalhadores rurais, de mãos calejadas do rude trabalho de um dia inteiro... Eu a acompanhava até uma sala de aula, que contava apenas com lousa e giz e o material que mamãe ficava horas providenciando em casa.

Ainda recordo-me da alegria deles também quando começavam a escrever as primeiras sílabas. E quando conseguiam escrever seus nomes??? Muitos choravam um choro gostoso da emoção de ter conseguido... Choravam eles... Chorava mamãe... Chorava eu e registrava na memória essas cenas que tempo algum pôde apagar.

Quantos recortavam páginas de velhas revistas e até anúncios de jornal para colar nos cadernos e ler naquelas noites, de luz tão escura para os olhos, mas tão iluminadas para a alma.Havia uma cumplicidade deliciosa entre mãe e filha... Duas educadoras que tinham em comum levar crianças e adultos para o mundo da leitura e da escrita.

Maria Eugenia

01/08/2008

Nenhum comentário: