terça-feira, 28 de outubro de 2008

Densa Neblina



Densa Neblina

Assim escura

está minh'alma.


Densa, nebulosa

feito neblina

embotada, esbranquiçada.


Como garoa fina

que encolhe os ossos...


Maria Eugenia

27/10/2008

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Percepções




Dias desses sonhar permiti-me.
Ousei sentir as sensações
Que prazerosamente
Aliviaram a minha alma das tensões.


Andei pelas areias do parque.
De pés descalços, como a sentir
Os grãos compactos da areia
Grossa, após as chuvas da tarde.

Sentei-me à beira do lago.
E ali a observar fiquei, por longos minutos
Os movimentos sinuosos da água
A criar desenhos que no coração trago.

Deliciei-me com o silêncio mágico.
Entrecortado hora a hora, ao pôr-do-sol
Pelos sons difusos de pássaros e crianças
Tão ao longe como as cores do arco-íris.

Talvez tenha me permitido cochilar.
Sensação de ter vivido ou sonhado
Impressão profunda da mais pura verdade.
Difusa e vaga memória de quando?

Maria Eugenia
23/10/2008

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Nos bastidores




Num finalzinho de tarde, após uma reunião do Clube, a senhora Arrogância encontrou a senhora Simplicidade e começaram um diálogo, mais propriamente parecido com um monólogo. A senhora Arrogância perguntou à senhora Simplicidade:
- Viu como todos me aplaudiram? Minhas palavras provocaram um efeito maravilhoso!
-Sim, respondeu a senhora Simplicidade.
A senhora Arrogância continuou:
-Parece que por onde passo os aplausos acompanham-me. Minha lucidez é impressionante e as pessoas cercam-me para elogios e mais elogios.
-Sim, respondeu novamente a senhora Simplicidade.
A senhora Arrogância parecia delirante com as pessoas ao seu redor. Ela continuou:
-Minhas palavras são as mais eloqüentes, o meu discurso o mais fervoroso e minhas idéias claras e precisas. Aonde vou sou aplaudida. Sou uma pessoa muito requisitada.
-Sim, constatou a senhora Simplicidade... Eu também gostaria de...
Parou a frase no meio do caminho, pois a senhora Arrogância não prestava atenção. Falava mais para si mesma.
- Você viu como todos me presentearam com flores? E os sorrisos? Mas os aplausos são o que mais me fascinam.
-Sim, retrucou novamente a senhora Simplicidade.
E sem nem se despedir, a Senhora Arrogância saiu, sem deixar de perguntar se sua aparência estava perfeita, se o cabelo estava em ordem.
-Sim, respondeu a senhora Simplicidade, ficando com a impressão de que a senhora Arrogância não ouviria mesmo.
A senhora Simplicidade começou a arrumação do local. Ao limpar as mesas, deparou-se com todas as flores que a senhora Arrogância havia deixado de levar. Apanhou um vaso e foi colocando-as para que não murchassem. Quando olhou ao lado, viu a senhora Humildade que havia organizado todo o evento, tomando sozinha uma xícara de chá. Havia trabalhado arduamente, por muitas horas, para que tudo saísse a contento, e assim a senhora Arrogância, a convidada, pudesse brindar a todos com seus conhecimentos.
Então, tomando do vaso, com as flores que a senhora Arrogância havia deixado, presenteou a senhora Humildade por todo o serviço prestado e as duas num forte abraço sentiram que mais uma tarefa havia sido completada. Nos bastidores não houve aplausos.

Maria Eugenia
21/10/2008

“Sobre tudo o que se deve guardar, guarda o teu coração, porque dele procedem as fontes da vida”(Pr, 4,23)

sábado, 18 de outubro de 2008

Celebração da vida


Caminhando pela rua, olhos postos no chão, deparei-me com um gramado e nele algumas margaridas. De súbito, parei... Fiquei contemplando a beleza das pétalas brancas enfeitadas com o dourado do miolo central e o verde de suas folhas. Pensei: é primavera!Como não havia me dado conta de que o sol brilhava mais forte? E como também não me apercebi das flores renascendo nos jardins?E o canto dos pássaros logo pela manhã?Ah! Estava olhando tanto para dentro de mim... Olhando para minhas mazelas... Chorando as minhas dores... Expectadora da vida, não participante da alegria de viver.Só então percebi que meu inverno se arrastava no meu mundo interior, onde o céu ainda estava nublado e o frio enrijecia minh'alma. E eu possivelmente sem nenhuma força para sair deste estado, ou talvez, sem fazer nenhum esforço para romper este ciclo com pena de mim mesma...Mas estas margaridas, vivas, diante dos meus olhos... Como pude olhar sem enxergar? Viver sem vida? Não perceber a morbidez, a depressão, o medo, o cansaço mascarando a vontade, o desejo de libertação?Contemplando-as, ergui os olhos e me deixei inundar pelos raios do sol, que foram vencendo a frieza, fazendo o sangue pulsar intensamente em todo o meu corpo. E com a vida pulsando, ouvi o canto de um pássaro que parecia dizer-me: viva!viva!viva!De súbito, arranquei as vestes de inverno e me desnudei do desânimo, deixando que os primeiros raios de sol desta manhã me trouxessem vida e me fizessem ressurgir como mais uma margarida no jardim da primavera.
Maria Eugenia
17/10/2008

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

MÃOS



Senta o homem ao piano.

Vestido maviosamente

Fraque, gravata...

Cabelo impecável...

Olha ao redor.

Contempla com lágrimas

a sala vazia

o seu piano suntuoso...

Mas...Por que chora?

Chora a dor de ter me perdido

Chora a dor da mutilação

Porque sem mim

que fui suas mãos

Ele nunca mais vai tocar...


Maria Eugenia

15/10/2008

terça-feira, 14 de outubro de 2008

VIDA


Corro
para a liberdade...
Morro
sem a luz do sol!!!

Maria Eugenia
14/10/2008
*publicado no foto poesia*
*Café das letras

domingo, 12 de outubro de 2008

Poesia de uma vovó



Neste dia da Criança
quero escrever ao meu menino...
Para tanto
Gostaria de ter todo o talento do mundo.
Gostaria de conhecer todas as palavras.
Ter a habilidade de um escriba.
E a capacidade de um escultor.

Queria conhecer toda a harmonia dos sons.
Decifrar todos os dons...
Gostaria de ter os poderes dos super-heróis.
Que com um toque transformam o mundo.
Queria pintar e transformar as cores
Em um lindo arco-íris de uma nova aliança
De paz e esperança...

Mas, como não tenho essas capacidades
Entendi que tenho braços para abraçá-lo...
Beijos de batom para melecar sua bochecha...
Um almoço gostoso da casa da vovó...
Sorrisos e cócegas para alegrar a vida.
E um coração em prece para pedir a Deus
Proteção para todos os dias de sua vida.

E num rasgo de entendimento compreendi ainda
Que tenho voz para dizer:
CADU, a vovó o ama muito, muito...
Você encheu nossa casa de riso.
Tirou o luto e trouxe os raios do sol.
E com os raios de sol voltou a vida
Que se escancara nas suas estripulias...

Maria Eugenia
12/10/2008
*ao netinho Cadu, hoje com 6 anos e a todas as crianças de todas as idades*

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

SONHOS




Voar
nas asas da aurora.

Buscar o lugar
onde habitam
os sonhos.

E nos sonhos
encontrar abrigo,
amparo e proteção.

Para viver este amor
louco amor,
chamado impossível!!!

Maria Eugenia
10/10/2008

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

COUVE OU COVE? QUE DÚVIDA!


Um "causo" verídico, embora pareça piada!Mas o fato é que ocorreu em uma cidadezinha do interior.
O João das Couve candidatou-se a vereador...Sonho acalentado por muitos anos...O slogan “das Couve” originou-se de seu trabalho...Por muito tempo batia de porta em porta, cedinho, oferecendo pés-de-couve colhidos fresquinhos às freguesas da cidade...
Lá ia o homem e todos diziam: olha o João das Couve e assim ficou...Seu sobrenome verdadeiro sabe-se lá qual era...Figura muito conhecida na cidade, diziam que era até mais conhecido que o padre.As couves lhe rendiam sustento e uma popularidade notória.
Alguns amigos viviam comentando que ele era mais popular até que o prefeito... Fato público e notório...Mas o João das Couve, na sua simplicidade, rebatia: deixa pra lá, gente...Ele gostava mesmo era de vender suas couves fresquinhas e assim ia batendo papo e levando a vida...
Mas, como o João não era diferente de nenhum ser humano desta terra, tanto foram falando, falando, que um dia tomou coragem e achou bom se candidatar... Para prefeito não... Pensou ser muita arrogância... Mas vereador, claro que ficava bom... Os amigos, "aqueles", já haviam dito que era só mandar pintar o muro do cemitério nas vésperas de finados, solicitar a poda de algumas árvores na frente da casa das senhoras que compravam couves (claro suas eleitoras fiéis)... Comparecer aos batizados, ser padrinho de algumas crianças e o importante: não esquecer de estar presente em todos os funerais, melhor dizendo, enterros dos conhecidos e até desconhecidos... Afinal, em velório ele não pagaria ingresso para entrar nem para tomar um café e apertar a mão dos eleitores...
O sonho foi crescendo e crescendo... Havia um porém, João das Couve era analfabeto, mal sabia escrever seu nome de carreirinha...Dinheiro ele conhecia no ofício de vender couve todos os dias...Somava a venda dos pés,recebia o valor, fazia troco, coisa pouca...A maior parte das freguesas marcava para pagar depois...Os amigos, “aqueles”, diziam que não importava ser analfabeto, o importante era ter um assessor ou melhor, um bom “aceçor”...Ah! Isso sim: um bom entendido de política, para escrever os discursos com aquela fala bonita, que faz o povo até chorar...Quanto mais bonito, mais votos sempre...
E as couves? Continuaria no ofício de vendedor???Levantar de madrugadinha, ir até à horta, cortar os pés, embrulhar, colocar na carriola e sair pelas ruas, ter um dedo de prosa com as freguesas...Muita trabalheira, ocuparia muito tempo do vereador...
Mas isso seria para se pensar depois. Agora era garantir os eleitores e já pensar na escolha do “aceçor”, além, é claro de uma passadinha no alfaiate para encomendar um terno, branco, bem bonito para deixar pronto para o dia da posse... Pra não fazer feio ao lado do prefeito!!!Afinal, autoridade é autoridade, ou melhor: otoridade é otoridade ou será notoriedade? O João nem ficou com essa dúvida...Era analfabeto mesmo...Deixa isso para os eleitores!!!

Maria Eugenia
09/10/2008

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Verdes Campos



Verdes campos floridos em todo derredor
De açucenas e miosótis coloridos aos milhares.
Colcha verde salpicada de amarelo claro-escuro
Num magnífico contraste com o branco e o lilás
Devolviam aos trôpegos que ali passavam
A coragem e a força para continuar.

Viajantes cansados ali sempre paravam
Deslumbrados com a paisagem a perder de vista
Esqueciam a jornada de muitas léguas
Extasiados com as cores das flores
Que brilhavam à luz do sol
Em espetaculares desenhos ao sabor do vento.

A natureza pródiga para seus filhos
A cada ano reproduzia o espetáculo da floração.
A terra generosa deliciava-se em oferecer
Um gentil banquete colorido para os olhos cansados
E o vento como nobre regente de uma orquestra
Assoviava espalhando as sementes para o ato da fecundação.

Verdes campos outrora floridos
Que como leito se ofereciam ao cansado
Hoje secam e choram sobre a terra arenosa
Saudosos do tempo que eram o encanto dos viajantes
Pedindo à mãe natureza e à terra generosa
Que os deixem florir novamente em meio à devastação...

Maria Eugenia
07/10/2008

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Sabor Amargo



Um sabor amargo

de derrota.

Gosto de vinagre

misturado com fel...

Há um choro engasgado...

Haverá consolo???

Um dia

Talvez...


Maria Eugenia

06/10/2008

domingo, 5 de outubro de 2008

Silêncio



Hoje me silencio

Calo a voz dentro do peito

Espero muda, ansiosa

Uma resposta que traga esperança

Que mude o destino de muitos...


Maria Eugenia

05 de outubro de 2008

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

As três senhoras


Quisera envelhecer
Tão mansamente
Que possa ficar
conversando
no banco da praça
com as amigas
Contemplando
os que ainda irão envelhecer...

Maria Eugenia
03/10/2008