sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Tragicomédia da vida humana



Chocou-me muito os episódios sofridos pelo povo catarinense. E ainda está me chocando. Fatos novos, dramáticos, a cada dia. Creio que não só a mim, mas a todos os brasileiros. Corri fazer minha parte, arrecadei roupas, mantimentos, enchi duas vezes o bagageiro do carro e levei ao local destinado para fazer chegar ao destino certo.
Solidariedade? Desencargo de consciência? Não sei definir exatamente o que senti. Também nem tenho procurado explicações. Explica-se a dor? A morte? Não. Não se exprime com palavras a dor de milhares, somente o gosto amargo das lágrimas escorrendo pelo rosto. Talvez a explicação esteja no descaso das autoridades, do poder público. Mas diante da tragédia, melhor é não procurar culpados. Agora é hora de ajudar. Todos somos protagonistas e expectadores desta tragicomédia da vida humana.
Mas assistindo uma reportagem no dia de hoje, fiquei refletindo indignada. O repórter dizia, que se os moradores da cidadezinha não saíssem, seriam retirados à força pelos militares. Claro que para preservar a vida destes cidadãos ilhados. Compreendi perfeitamente, mas o apresentador disse ao repórter que se as pessoas insistissem, tinham mesmo é que serem tiradas à força. Fiquei chocada. Serem tiradas à força. Como se a força da água já não lhes tivesse tirado tudo. Tirado a vida, a casa, os móveis, os amigos, os parentes queridos que eles enterraram e os que a própria terra enterrou...
Claro que correm risco de novos soterramentos, mas a vontade de permanecer, talvez seja a única maneira de tentar guardar o pouco que restou. Como entender este apego mesmo com risco de morrer, senão pela vontade de preservar, de não deixar sucumbir o pouco que sobrou, se é que sobrou alguma coisa. Como se ficando naquele chão, a memória, a história, a família estivessem protegidas, como sementes de vida e não de morte. Lucidez ou insanidade? Quem se atreve a responder? Como explicar os mecanismos da mente humana em face à dor aterrorizante?
Tirar à força o homem de sua terra é o mesmo que arrancar as raízes mais profundas das convicções, das crenças... E isso a natureza já fez sem pedir licença, mas nós precisamos cuidar até das expressões que usamos em face da dor do outro. Preservar a vida é preciso, mas com cuidado, para não arrebentar ainda mais aqueles que já estão alquebrados com o sofrimento e o luto.
Não querer sair é o mesmo que dizer que não se conseguiu aceitar a realidade, especialmente tão abrupta da perda das raízes, da história. É dizer que se ficou sem chão, “sem lenço e sem documento”, sem nome, sem cidade, vivendo de caridade. Às vezes, a morte é mais digna.
Aí se entende a imagem de um senhor, colocando para secar, em um varal improvisado, todas as fotografias da família. Talvez tenha sido o que sobrou para mantê-lo vivo.

Maria Eugenia
29/11/2008
*direitos reservados à autora*

sábado, 22 de novembro de 2008

Amigos são para sempre...










Amigos para sempre
assim diz a canção.
É bem verdade,
Amigos são para sempre...

Amigos se vão...
para sempre...
Amigos são amigos
para toda eternidade.

Adeus, dona Edma...

As lembranças,
os dias felizes,
a chácara,
as gargalhadas,
as vigílias de oração,
os familiares
ficam para sempre
guardam sua memória
em nossos corações.
Amigos para sempre...
Assim diz a canção.
Assim a vida se repete...
Amigos são para sempre!

Maria Eugenia
22/11/2008

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Na madrugada



Penso nesta alta madrugada
Que sentido faz a poesia
No meio desta vida tão emaranhada
Que parece um mundo de fantasia.

Como poetisar sem chorar?
Cantando amores e também as dores.
Como poetisar sem sorrir?
Traduzindo esperança e horrores.
Num contra-senso da estética.

Que sentido faz a poesia
Na pós modernidade que tem pressa?
Na correria do dia-a-dia
Nesta civilização do descartável?
Do renovável
Do reciclável
Do biodegradável?

Penso nesta alta madrugada.
Que sem a poesia, a brutalidade
O embrutecimento das emoções
O entupimento das artérias
A gangrena pela falha de circulação
Já teriam levado a óbito
os mais ricos sonhos da humanidade.

Desperta , penso nesta madrugada
Na sensibilidade que faz da pena
O adubo do amor
A seiva da fraternidade
O espaço da generosidade.


Maria Eugenia
14/11/2008

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Bem-me-quer



Seu corpo
Jaz em uma mala.
Que infortúnio!
Loucura?
Perversidade?

Eu...Perplexa

Aturdida com a forma brutal.
Começo novamente
a recitar as palavras
como na brincadeira:
Bem-me-quer
Mal-me-quer...
Bem
Mal
Mala
Amá-la
Eloá,
Raquel
Marias,
Amá-las
meninasbrasileiras
mala
Amá-la...
Não tem fim...
Maria Eugenia
07/11/2008

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Ao poeta a pena!






Da força da palavra
Fez-se a vida.
Haja!
Houve luz.
Houve treva.
Separe-se!
Houve separação
terra e água.
bem e mal.
Nasça!
Nasceu.
Cresça!
Cresceu e se multiplicou.
Jamais da palavra bem dita
Ouviu-se
Morra!

E como se morre a cada dia?
Morrem os sonhos
As esperanças
Também as crianças.
E num momento
de lucidez em dores de parto
Houve luz
Houve entendimento
da energia da vida.
E palavras benditas
ecoaram novamente.
Viva!
E a vida se fez...

Até quando?
Não importa...
Importa que poetas
Gritem, proclamem
palavras bem ditas
Benditas palavras
de libertação...

Ao poeta a pena!!!

Maria Eugenia
05/11/2008